25 de fevereiro de 2011

Surfista

Haroldo estava sentado no sofá lendo seu jornal, quando a filha chegou da rua com um brilho diferente nos olhos e ficou parada olhando para ele.

- O que foi Luciana, o que aconteceu?
- Papai, o senhor compra uma prancha pra mim?
- Pra quê?
- É que eu descobri minha vocação.
- Ah, é? E qual é?
- Ser surfista!
- Surfista?
- É. Eu sempre sonhei em ser única, ser revolucionária, quero ser a primeira surfista brasileira.
- Você não vai conseguir ser a primeira surfista brasileira.
- E por que não? Por acaso o senhor não acredita no meu potencial?
- Não é isso, filha. Não sei se você reparou, mas o Brasil tem um extenso litoral, ou seja, já existem outras surfistas, aqui, meu bem, não é o Paraguai.

A filha, completamente decepcionada, foi para o seu quarto, o seu sonho fora todo por água abaixo.
Mas menos de meia hora depois ela voltou.

- O senhor me compra um skate?
- Já existem mulheres skatistas, você não será a primeira.
- Que droga!

Ela foi até a cozinha, talvez comer alguma coisa que poderia refrescar a sua mente e assim ela poderia pensar em algo original e único como ela.

- E se eu fosse jogadora de futebol? A Pelé de saias?
- Já existe!
- Cantora de uma banda de rock feita só por mulheres?
- Já existe.
- Uma banda de axé só de mulheres.
- Eu te deserdo.
- Tá! Eu vou pensar em alguma coisa.

Ela voltou para o quarto, tomou um longo banho para refrescar a mente, pelo menos desta vez, só então voltou para a sala. O pai já tinha terminado de ver o jornal e assistia TV.

- E então?
- O senhor me compra uma passagem pro Paraguai?

Por Hévilla Wanderley

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