7 de maio de 2010

Alice em “Underland”, visões de Tim Burton


Em abril deste ano estreou “Alice no País das Maravilhas”, de Tim Burton, um dos filmes mais esperados desde o seu anúncio, em novembro de 2007. Fãs dos filmes de Burton e dos livros “Alice no País das Maravilhas” e “Alice Através do Espelho”, do escritor Lewis Carroll, lotaram o cinema para assistir a adaptação.

Tim Burton tem em seu currículo filmes como “Edward Mãos de Tesoura” (1990), “O Estranho Mundo de Jack” (1993) e “Peixe Grande” (2003), que mostram o talento do diretor através de sua estética, que é umas das grandes características de suas películas, e do modo como recria os mundos de sua mente na telona, fazendo com que sejam sucessos de crítica e de público. Burton cuida dos detalhes de cada um dos seus filmes fazendo com que eles realmente tenham a sua marca, se tornando impossível não saber quando estamos assistindo um filme seu. Essas características fizeram com que os fãs do Carroll ficassem ansiosos pela adaptação.

No filme, Alice (Mia Wasikowska) agora é uma jovem de dezenove anos, que continua com a mesma grande imaginação e com os mesmos pesadelos de quando era criança. No início da narrativa, Alice está em uma festa da nobreza em Oxford, dada por Lord Ascot (Tim Pigott-Smith), ex-sócio do seu pai e agora dono das empresas que pertenciam a ele. Lá ela está prestes a ser pedida em casamento por Hamish (Leo Bill), filho de Ascot, na frente de todos os convidados. Sentindo-se acuada, Alice pede um tempo para pensar e vai até o jardim onde, ao ver o coelho branco, vai atrás dele fazendo com que ela caia em um buraco.

Quando chega ao chão se depara com uma sala oval onde existem várias portas, sendo uma delas bem pequena. Após isso ela observa que em cima da mesa que está a sua frente existe uma chave diminuta que abre aquela portinha. Mas ao tentar abrir percebe que mal passa a sua cabeça. Nesse momento ela vê um bolinho com uma inscrição “me coma”. Ela o come e quando o faz começa a crescer de maneira desenfreada até atingir proporções gigantescas, mas faz o caminho reverso ao beber de uma garrafinha que tem escrito “beba-me”, conseguindo assim passar pela porta. Em seu passeio pelo jardim, que ela encontra ao sair da sala oval, ela descobre que o lugar com o qual ela sempre sonhou existe, se chama “Underland”, e que ela é a escolhida para derrotar o Jabberwocky, monstro da Rainha Vermelha (Helena Bonham-Carter).

Como deu para perceber, o diretor usa os livros apenas como argumento para embasar sua história, onde Alice já não é uma criança e não existe o País das Maravilhas e sim o novo mundo, “Underland”. Nessa adaptação, a única coisa que realmente é fiel ao livro é a lebre que possui todo o comportamento insano e cômico do livro. As metáforas do crescimento e toda a carga filosófica e crítica do livro dão lugar à “jornada do herói” vivida por Alice, que agora não é a visitante de um mundo fantástico, mas sim sua salvadora. Essa transformação de Alice em uma heroína foi feita de uma forma muito solta, sem solidificar toda a trajetória pela qual a personagem percorreu até a batalha com o dragão, o que seria o ponto alto do filme, mas isso não acontece, deixando o filme sem emoção e sem um clímax.

Quando Helena Bonham-Carter, intérprete da Rainha Vermelha, aparece em cena, com seu cabeção e sua corte a tira colo, é com certeza um dos melhores momentos do filme. Boham-Carter é uma atriz maravilhosa, consegue unir o caráter egoísta, imperativo, cruel e cômico da personagem fazendo de forma tão magistral e carismática que roubou o filme fazendo com que ela se sobressaísse à personagem principal.

Os personagens perderam sua insanidade e no filme foram humanizados, o que era um propósito de Burton. Um dos personagens que para mim sofreu essa mudança de forma mais clara foi o Chapeleiro Maluco, que agora é só um homem que esconde através de uma pretensa loucura a tristeza e desesperança de alguém que perdeu tudo o que tinha quando a Rainha Vermelha rouba o reino de sua irmã, a Rainha Branca (Anne Hathaway). Depp consegue passar todo o sentimento do personagem, faz com que você acredite nele e veja a mudança da tristeza (mesmo que disfarçada) em felicidade no final.

Mia Wasikowska (Alice) não é uma má atriz, mas não possui presença em cena o suficiente para se impor na tela junto com tantos bons atores e personagens fortes, o que faz com que ela pareça apenas uma garota perdida em um mundo desconhecido. Mesmo em cenas com a Rainha Branca (Anne Hathaway), que é um personagem marcante, mas sem uma carga dramática como a da Rainha Vermelha e de outros personagens Wasikowska ainda é ofuscada.

O filme possui uma fotografia muito bonita, com uma paleta de cores nas quais os tons mais quentes se sobressaem no azulado, que predominou como “pano de fundo” do filme, e uma caracterização feita de maneira precisa, porém falhou na construção da trajetória percorrida por Alice para se tornar uma heroína, tirando a emoção do filme e fazendo com que o espectador saia da sala do cinema com uma sensação de que foi só mais um filme.

Por Gemma Lima (@escreviecorri)

Um comentário:

  1. Eu acho que não necessariamente como "mais um filme", afinal é Burton, é Carroll. E justamente por serem eles, nós esperávamos um filme de "botar-prá-quebrar"!

    Achei o filme muito aventuresco, muita correria, luta... Fugindo bastante ao que se encontra nos livros que serviram de base.

    Não tiro de Burton a ideia revolucionária de fazer não uma "adaptação", mas uma "continuação" da história de Alice. Senti falta, justamente, da cabecinha filosófica da menina e das loucuras do chapeleiro.

    Helena foi primorosa com sua Rainha Vermelha!
    Quanto à parte técnica, cor, figurino e maquiagem, realmente, estava tudo impecável.

    Mas não é só isso que pretendíamos ver, né?

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